30.5.07



Os carros de som da cidade rodavam sozinhos anunciando:




"Aquilo que nele não se enxergava é o próprio ele. A noite presa na escuridão. A partir da sombra, mata a vida, rouba a luz dos homens e a prende em uma cela cerebral. Assassino frio. Não há mais polícia, nem vingadores solitários. Sua opacidade tira a luz das pessoas e as leva para habitar sua mente doentia. Para ele, que matou sua mãe no parto, ao nascer; que matou seu pai, apenas com sua presença, não importa se é dia ou noite, em todo horário há sombra.




Homos sapiens, sapiens, sapiens, sabei-vos que deveis ter cuidado. "




Mas já não havia muita gente para escutar. E ainda que houvesse, não adiantaria muito. Os poucos se protegiam como podiam, mas sabiam que o fim estava perto.




Enquanto isso, com rosto de nada, ele




Pega um cigarro, acende. Vai até a janela, dá uns tapas na cabeça - “Calem a boca, imbecis” -, grita para os humanos que clamavam liberdade para a fresta de luz gradeada, a única ilusão de que um dia poderiam sair dali.

Texto e imagem [foto+desenho photoshop]: Amanda Nascimento

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Aspirante a jornalista e fotógrafa... faz uns versinhos por aí.